Cuidados antes da concepção
A rápida perda de peso que se segue às cirurgias da obesidade
alcança um platô por volta de 12 a 18 meses, após o
procedimento. É recomendável o uso de anticoncepcional nessa
fase, uma vez que a perda rápida de peso pode colocar em risco o
desenvolvimento fetal e os benefícios da perda de peso para essa
mulher.
As técnicas classificadas como by pass desviam o alimento de importantes
rotas absortivas e podem levar à deficiência de vários
micronutrientes importantes para a saúde materno fetal. As deficiências
de ferro, cálcio, vitamina B12 e ácido fólico, comuns
nas pacientes submetidas a essas cirurgias, são mais intensas nas
mulheres que menstruam, uma vez que perdem mais ferro através do
sangue menstrual.
As deficiências nutricionais idealmente deveriam ser identificadas
e tratadas antes da concepção. Isso pode ser feito com a suplementação
de ferro, através do fumarato de ferro, mais tolerável do
que o sulfato ferroso, vitamina B12 via oral 500 a 1000mcg/dia ou por via
intra-muscular 500 a 1000mcg uma vez ao mês.
O cálcio – cerca de 1200mg/dia – deve ser administrado
sob a forma de citrato de cálcio, uma vez que os sais de carbonato
de cálcio requerem a acidez gástrica, e devido à redução
drástica da câmara do estômago e do suco gástrico,
estes nutrientes são muito mal absorvidos. Finalmente, todas as mulheres
em idade reprodutiva devem receber, pelo menos, 400mcg de ácido fólico
diariamente, para a redução do risco das malformações
neurológicas, os chamados defeitos do tubo neural.
Cuidados gestacionais
Além da manutenção dos cuidados e suplementações
já iniciados antes da concepção, geralmente, há
a necessidade de se intensificar as doses das vitaminas e minerais. “esse
momento, a gestante deve ser advertida sobre os riscos da super dosagem
de uma vitamina em especial: a vitamina A. A dose contida nas vitaminas
pré-natais é de 5000UI de vitamina A, por comprimido, e, muitas
vezes, a gestante, após a cirurgia bariátrica, é corretamente
orientada a ingerir 2 comprimidos por dia, alcançando a dose máxima
de 10000UI da referida vitamina.Além desses dois comprimidos, a gestante
não deve ingerir nenhum outro remédio que contenha vitamina
A, pois além da dosagem de 10000UI, a vitamina é teratogênica.
As complicações da cirurgia bariátrica durante a gestação
incluem a obstrução intestinal materna, geralmente devido
à hérnias do intestino delgado, mais comuns nos procedimentos
com laparoscopia, em relação às mulheres operadas através
de abertura da parede abdominal. Podem ocorrer ainda torções
intestinais, que, às vezes, evoluem para lesões intestinais
graves, quando não diagnosticadas em tempo hábil. Essas alterações
intestinais podem ser induzidas pelo crescimento uterino, deslocando o intestino
anatomicamente alterado pela cirurgia e predispondo a herniações
e torções.
As queixas de desconforto abdominal nas gestantes devido a complicações
da cirurgia bariátrica podem passar despercebidas ou podem ser confundidas
com as alterações ligadas à própria gestação
como os vômitos freqüentes, refluxo, contrações
uterinas e mal estar matutino.
Os riscos das deficiências de micronutrientes aumentam com a progressão
da gestação, levando à necessidade da suplementação
desses através da via endovenosa ou intramuscular. É o caso
das deficiências graves e resistentes de ferro e vitamina B12.
As baixas de glicose ou hipoglicemias, tão freqüentes nas gestantes
de uma maneira geral, são geralmente mais freqüentes e mais
graves nas gestantes após a cirurgia bariátrica. Além
disso, a complicação mais sintomática e desconfortável
dessas cirurgias, o chamado dumping, é também mais freqüente
nas gestantes. Há que se reforçar a necessidade das refeições
mais freqüentes, o cuidado com o jejum prolongado e o risco dos líquidos
ou alimentos sólidos ricos em açúcar. As manifestações
extremamente desconfortantes do dumping dão à paciente submetida
à cirurgia bariátrica a noção clara da importância
do controle alimentar, tanto em relação à freqüência,
como em relação ao tipo de alimentos ingeridos.
Pós-parto e a amamentação
A perda de peso das gestantes, após a gestação e o
parto, segue a mesma intensidade da perda de peso após a cirurgia
bariátrica. Há relatos de que a maior parte do peso ganho
durante a gestação é perdida nas primeiras 5 semanas
após o parto.
A amamentação não é contra-indicada para estas
pacientes, entretanto, quadros de deficiências maternas de microcutrientes,
como os descritos acima, podem levar às mesmas manifestações
nos bebês que estão amamentando. Essas mães devem seguir
suas suplementações rigorosamente para realizarem o sonho
de amamentarem seus bebês.
Quando comparadas com as gestantes obesas que engravidam, aquelas que o
fazem após a cirurgia bariátrica, têm menor incidência
de hipertensão arterial, menor ganho de peso durante a gestação
e bebês de peso semelhantes, embora os grandes fetos macrossômicos
sejam menos comuns nas mulheres operadas.
A orientação nutricional e a adesão das pacientes
ao novo programa alimentar favorece os resultados positivos das gestações
de mulheres submetidas à cirurgia bariátrica. Por outro lado,
a dificuldade que muitas dessas pacientes têm de seguir estas mesmas
orientações pode tornar essas gestações complicadas,
expondo os bebês aos riscos de graves malformações e
desnutrição.
Dra. Ellen Simone PaivaMédica especializada em endocrinologia e nutrologia.